Belo texto no Blog de Cosme Rimoli no portal R7
Chiquinha, Kiko, Seu Madruga...
Dona Florinda, Professor Girafales...
A turma do Chaves...
Seriado mexicano infantil gravado em 1973.
Esse era o grande inimigo do Globo Esporte.
A pedra no sapato.
Os executivos da emissora carioca ficavam humilhados.
As repetições ad infinitum do seriado batiam fácil no noticiário esportivo.
Não encontravam solução.
Até que surgiu Tiago Leifert.
O jornalista e psicólogo tinha um plano, experiência e a certeza de que seria ouvido.
O plano era acabar com a 'caretice' do Globo Esporte.
As pesquisas apontavam que o público juvenil domina a televisão aberta na hora do almoço.
É o horário depois das aulas para quem estuda de manhã.
E é o que antecede a ida às aulas no horário vespertino.
Tiago tinha a tese que os adolescentes não queriam a informação esportiva simples, direta.
Queriam brincandeiras, provocações, ritmo alucinante no jornal, descontração.
Um irmão mais velho no ar, brincando, sacaneando convidados, jogadores.
Comprometimento com o que os garotos querem ver e não com a informação pura e simples.
Thiago tinha, além do grande talento natural, a experiência.
Foi apresentador do Vanguarda Mix, programa de entretenimento no Vale do Paraíba, interior paulista.
E também a certeza de que seria ouvido pelos executivos que definem a programação da emissora carioca.
Ele é filho de Gilberto Leifert, alto executivo da emissora, diretor de relações com o mercado com a Globo.
Tudo conspirou a favor.
Para concorrer com Chaves, descontração como prioridade e pitadas de jornalismo esportivo.
O resultado foi melhor do que se poderia acreditar.
Tiago Leifert foi a última novidade certeira da TV Globo.
Os índices de audiência reverteram o quadro em São Paulo.
Ele acabou influenciando o Globo Esporte do Rio e dos noticiários esportivos da emissora.
Vários personagens importantes do futebol na emissora não gostam.
Sentem falta de conteúdo.
Galvão Bueno é apontado internamente com quem ficou mais decepcionado com a postura da emissora.
Defensor intransigente de informação, o narrador não se conformaria com o atual Globo Esporte.
Mas com audiência, ninguém brinca.
Traz anunciante, dinheiro alto.
Sempre foi assim.
Ouvi de um importante diretor de televisão uma definição inesquecível.
"Se um cachorro latindo der 15 pontos de audiência à tarde, ele só sai do ar morto."
Não é o caso do Globo Esporte de Leifert, que é realmente inovador.
Logo o jornalista se transformou em celebridade.
Tem mais de um milhão de seguidores no Twitter.
Ganhou vários e vários prêmios.
Virou capa de revista.
Tudo estava bem até começar 2012.
As risadas acabaram nas reuniões de pautas do progama.
Em comparação a janeiro de 2011, a audiência caiu 20%.
A média de 13,2% caiu para 10,5%.
Mesmo o ônibus itinerante não deu resultado.
Leifert deixava de ser novidade.
A saída foi continuar forçando brincadeiras além da conta.
Foi quando o repórter Léo Bianchi encontrou pela frente Barcos do Palmeiras.
Ele sabia que o jogador não tolerava os apelidos que os companheiros de time tentavam colocar nele.
Léo levou fotos de Zé Ramalho e tentou constranger o atacante perguntando várias vezes se eles se pareciam.
Ouviu o que não esperava.
"Filho da puta, boludo (babaca em espanhol)".
E ouviu a frase que resume a situação.
"Não me parece sério de sua parte."
Sim, de sério, o repórter não queria nada, só humilhá-lo.
O argentino não se dobrou à TV Globo.
Como fez, por exemplo, o pobre atacante Adriano, do mesmo Palmeiras.
Por ter imitado Michael Jackson quando atuava no futebol baiano virou uma vítima do Globo Esporte.
Confundiu notoriedade com pura exposição.
Várias e várias vezes teve de dançar ou ouvir a música do ídolo norte-americana.
Matérias no Palmeiras era essa triste humilhação ao pobre e desorientado jogador.
Um dos motivos para o clube se livrar do atacante foram essas matérias idiotas.
Tudo em nome das risadas, da audiência, lembra do cachorro latindo?
O Palmeiras parece ser o alvo predileto desse jornalismo do Globo Esporte.
Daniel Carvalho, gordo por ter usado anabolizantes no CSKA, de acordo com sua definição, se expôs.
Teve de tomar raspadinha com leite condensado diante das câmeras.
O que tem de informação esportiva neste ato?
Caio Ribeiro, o comentarista de quase todos os dias no Globo Esporte também é humilhado.
Várias vezes teve dançar diante das câmeras.
Se fantasiar.
Ou escolher a musa do carnaval, como hoje.
Leifert faz com ele, que não reclama de nada.
Com Casagrande não tem coragem, sabe que a reação seria bem diferente.
O caminho que escolheu Tiago Leifert está cansando.
A audiência mostra isso.
E é nessa hora que as pessoas demonstram sua índole.
Não existe ninguém no jornalismo esportivo que foi mais massacrado, humilhado do que Galvão Bueno.
Ele é o melhor narrador do país, sem dúvida alguma.
Só que a sua supexposição e a mania de comentar mais do que os comentaristas pesam contra ele.
Não foi por acaso que foi criada a campanha "Cala a Boca, Galvão".
Mas Galvão se comportou como um gentleman.
Mesmo diante de humoristas de gosto duvidoso como Vesgo do Pânico.
Os atende porque entende a situação.
Tem experiência e vivência para perceber que, apesar de contestado, seu talento é reconhecido.
Tiago Leifert tem outra postura.
Ele não foi o primeiro apresentador descontraído da televisão.
Muitas coisas do que faz, Jorge Kajuru fez antes.
Perguntado várias vezes sobre isso, Leifert diz que não conhece Kajuru.
Responde assim para humilhar.
Tudo ficou pior agora com o episódio Barcos.
Ele é o editor-chefe do Globo Esporte.
A linha editorial de raspadinhas com leite condensado, fotos de Zé Ramalho, concurso do mais belo jogador é dele.
Diante da postura firme do argentino, comentada em todos os veículos de comunicação, Leifert tomou a pior atitude.
Digna da TV Globo na época da ditadura.
Resolveu não atender mais os veículos que criticaram a postura da emissora.
E mais: chamar para a briga seu seguidores de twitter.
Ofender mulheres que não 'pegaria' também no seu twitter.
Sua atitude só mostra o quanto é falsa a sua descontração.
Ele pode ter derrotado o Chaves...
Mas começa a perder para a arrogância.
Uma pena.
Ele era a melhor novidade da TV Globo dos últimos anos.
Talvez fosse a hora de descer do pedestal...
E se aconselhar com um tal de Galvão Bueno...
Ou continuar rindo no programa, mandando humilhar jogadores para ter audiência...
Seguir ofendendo mulheres e chamando fãs para a briga no twitter...
E posando de estrela ofendida para jornalistas que procuram entrevistá-lo.
É esse o homem que revolucionou o jornalismo esportivo do Brasil?
Ou é um menino mimado?
Um filho de poderoso diretor da Globo, que não pode ser contrariado?